Projeto cultural “Memórias Oleiras” recupera as memórias de São Sebastião

O Jornal Daqui DF entrevistou o idealizador do Projeto cultural “Memórias Oleiras” que recupera as memórias de São Sebastião, Paulo Dagomé. Confira a entrevista

Você conhece sobre o local onde vive? Muitas pessoas passam a vida inteira sem desvendar os mistérios da cidade de origem. As lembranças chegam a se perder entre as gerações. Para evitar que esse seja o destino de São Sebastião, nasceu o projeto “Memórias Oleiras”, apoiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC).
O objetivo dessa iniciativa é resgatar, divulgar e preservar a história dessa região administrativa por meio de fotos, depoimento de pioneiros e arquivos públicos. Uma equipe – formada por pesquisadores, fotógrafos e cinegrafistas – está mobilizada para juntar essa história tijolo por tijolo. Em breve, o resultado de todo esse trabalho estará disponível na internet. Confira a entrevista com um dos idealizadores do projeto, Paulo Dagomé.

Jornal Daqui DF: Como nasceu o projeto “Memórias Oleiras”?
Paulo Dagomé: Desde os anos 2000, fazemos saraus pela cidade, primeiro com o grupo Radicais Livres e depois com o Movimento Supernova. Uma grande preocupação nossa é com a memória dos eventos: nós sempre filmamos e fotografamos a partir dos esforços, principalmente, de Nilmar Paulo e Mauro Silva, entre outros.
Com a chegada do companheiro Edvair Ribeiro, poeta local, essa preocupação com a memória se estendeu às origens da cidade. Em nossas conversas e reuniões Edvair sempre contava uma história ou caso que ocorreu nas antigas olarias – ele próprio foi oleiro e morador da cidade há mais de 40 anos.
Isso despertou nossa curiosidade a tal ponto que incentivamos Edvair a criar um blog para contar essas histórias! Por ele agir como se fosse um griô, contando os casos como aqueles contadores de estórias africanos, além de excelente poeta e declamador e portador de uma memória de elefante, batizamos o blog de “EU UM GRIÔ”. Ali várias histórias foram contadas ao longo do tempo e daí surgiu a ideia de concorrer ao edital do FAC – Fundo de Arte e Cultura da Secretaria de Cultura do DF.
Jornal Daqui DF: E então vocês venceram o edital, não é mesmo? Qual é a proposta do projeto?
Paulo Dagomé: Vamos construir um museu virtual, na verdade, para recuperação, identificação e armazenamento de todo o material histórico da cidade. O portal vai abrigar fotos, vídeos e documentos que estão dispersos por aí, nas casas de pioneiros. A gente pretende escanear esse material e disponibilizar para a comunidade.
Jornal Daqui DF: Como os registros são feitos?
Paulo Dagomé: Nós elencamos uma série de pioneiros, a partir da memória prodigiosa de Edvair. Ao todo, listamos 150 pessoas, mas como seria inviável conversar com todos, estabelecemos algumas prioridades com foco na idade, uma vez que muitos deles estão partindo e levando a memória da cidade.
Nós visitamos as casas dos escolhidos para filmar o depoimento e escanear o acervo pessoal, que será devidamente creditado quando for para o site. Esse trabalho de visitação pode levar um dia ou a tarde inteira de escaneamento e filmagens, mas para dar conta de tanta demanda nós vamos dar prosseguimento às ações, buscando novos parceiros para dar continuidade ao projeto posteriormente.
Jornal Daqui DF: Qual importância histórica desse material?
Paulo Dagomé: Por meio desse site, pretendemos trabalhar na identificação, estudo, documentação e divulgação de uma parte do patrimônio cultural de São Sebastião. Esse processo vai dar inicio a um projeto maior que, nos nossos mais belos sonhos, dará origem a um museu físico para abrigar documentos, fotos e também acervo físico doado pela comunidade.
A importância histórica da análise e do conhecimento do patrimônio cultural é importante para o exercício da cidadania. É preciso que a comunidade perceba o valor e o significado das experiências e vivências compartilhadas. Cada individuo participa, mesmo que de forma indireta, do processo cultural e político da coletividade. A herança cultural é responsabilidade e privilégio de todos. Esse projeto reforça a atuação que nós, do movimento cultural, desenvolvemos há mais de duas décadas na área da divulgação cultural. Agora estendemos isso à questão da memória.
Jornal Daqui DF (J.D): Quem são as pessoas responsáveis por essa grande missão?
Paulo Dagomé: Chamamos uns amigos já experientes na área de memória e pesquisa. Entre eles, o pesquisador da memória de Brasília, desde 2003, Gustavo Chauvet. Ele também é formado em artes e tem mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Outro integrante desse grupo é o historiador e mestre em educação Wélcio Toledo, que trabalha desde 2007 com memória e museologia social. Na equipe, temos ainda os cineastas Gustavo Serrate e Nilmar Paulo, além, é claro, do nosso griô Edvair Ribeiro.
Jornal Daqui DF: O que já foi possível desvendar?
Paulo Dagomé: São Sebastião tem aproximadamente 100 mil habitantes e somos reconhecidos regionalmente como a cidade que forneceu a maior parte dos tijolos para a construção de Brasília. Nas nossas pesquisas para escrever o projeto e a partir das nossas conversas com Gustavo Chauvet e Wélcio Toledo, descobrimos também que a história da nossa cidade está inserida na ocupação, pelos homens, no Distrito Federal, há 10.000 anos.
Isso foi surpreendente para mim pessoalmente. Segundo estudos de Chauvet, relatados no livro escrito por ele “O Caminho do Anhangüera”, a ocupação de toda essa área onde hoje se encontra o DF ocorreu entre 10.000 e 7.000 anos lá pelo chamado “período da pedra lascada”.
Depois vieram grupos indígenas, como os Kaipó e os Tupy-guarany. Já mais perto de nós, pela década de 1720, veio o bandeirante paulista Bartolomeu Bueno da Silva que atravessa o DF, em busca de ouro e que vai construir as chamadas estradas reais.
A construção de Brasília começa em 1956 e São Sebastião teve uma participação importante neste momento com as olarias. Passada a construção, outros tipos de ocupação vão surgindo até a criação da Região Administrativa de São Sebastião. È essa a história que pretendemos começar a resgatar.

Poliana Costa
Author: Poliana Costa

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