Especial | O que é música lo-fi e por que ela explodiu durante a pandemia?

Especial | O que é música lo-fi e por que ela explodiu durante a pandemia?

Por Luciana Zaramela | 30 de Abril de 2020 às 15h39
 Reprodução/Studio Ghibli

Qual a relação entre a música lo-fi, a pandemia do novo coronavírus e a quarentena? Temos percebido um aumento considerável de assinantes, promoções e criações de novas playlists nos serviços de streaming apresentando músicas com batidas suaves, melodias viajantes, muitas vezes livres de letras, completamente instrumentais e, no caso do hip hop, repletas de componentes eletrônicos e até rimas que remetem ao rap, em vários idiomas.

Primeiro ponto: o que é música lo-fi? O termo vem do inglês low fidelity, ou seja, baixa fidelidade. Quando um artista não tem grana para bancar grandes produções e acaba fazendo tudo no seu home studio, ele fica, geralmente, limitado à qualidade da gravação. Muitas vezes, recorre a truques que deixam a obra mais interessante, como o uso de gravadores de fita cassete, instrumentos musicais “de brinquedo”, por vezes até meio desafinados (como se fossem tocados de vitrolas antigas e descalibradas) e geradores de efeitos, chiados e simuladores de agulha de toca-discos. O termo foi popularizado nos anos 1980 pelo DJ William Berger, que tocava só músicas caseiras das antigas em seu programa na rádio.

A música lo-fi tem essa característica da leveza e da simplicidade, e por ser, em grande parte, livre de vocais, tem sido muito buscada para auxiliar a manter o foco em casa, durante o trabalho em home-office, ou mesmo para relaxar enquanto se lê um livro ou espera o sono chegar. E apesar do estilo lo-fi hip hop estar super em alta, ele não tem a agressividade, a percussividade intensa e os subgraves do hip hop tradicional, mantendo o ritmo mais lento com os chamados “beats de lo-fi”. Aliás, o lo-fi hip hop, quando não tem absolutamente nenhuma parte cantada, é o que deixa o estilo ainda mais suave e relaxante. Muitas vezes, encontramos samples de monólogos ou diálogos extraídos filmes, animes ou noticiários no meio da música.

Dá um play aqui para você ouvir enquanto lê essa matéria:

Há poucos anos, mais ou menos a partir de 2015, esse estilo começou a surgir e, recentemente, começou a emergir com bastante força uma movimentação em busca de canais e playlists de música lo-fi, seja hip hop ou não. A data tem tudo a ver com a pandemia e a quarentena do novo coronavírus: a galera está indo na contramão das superproduções para procurar algo intimista, simples, tranquilo, mas que tenha um profundo efeito no poder de concentração dessas pessoas.

Essas produções têm duas premissas principais: simplicidade, principalmente no orçamento do artista, com estética de baixa fidelidade que apresenta até chiados (propositalmente incluídos); e batidas eletrônicas, em loop ou gravadas de modo simplista. Com a popularização do estilo, muitos artistas estão lapidando as quinas do hip hop e trazendo uma nuance mais lounge, passando pelo vaporwave, por vezes até com frases e trechos de jazz e bossa nova (sejam sampleados ou autorais).

Música de millennial?

Quem conhece de música sabe que o termo “lo-fi” não é nada novo e pode ser aplicado a exatamente qualquer produção musical que utilize técnicas de gravação bem simples, com a fidelidade lá embaixo. A diferença do lo-fi hip hop e suas variações é que são produções muito recentes, muitas vezes compostas ou criadas por artistas iniciantes, que têm como objetivo relaxar e melhorar o poder de concentração do ouvinte.

Alguns artistas de lo-fi utilizam simplesmente um computador, algumas vezes plugado a um controlador, para criar músicas e até álbuns inteiros: tudo eletronicamente. Com a ajuda de tecnologia, esses criadores conseguem tanto usar loops (que são trechos pré-gravados e que, usados em softwares dedicados, podem se repetir ad infinitum) de bateria, de frases melódicas ou mesmo harmônicos.

Um controlador (esse tecladinho branco), um computador, uma placa de áudio, monitores de referência e voilá: temos um home studio! (Foto: Luciana Zaramela/Arquivo pessoal)

É, sim, um estilo que ficou famoso entre os millennials mesmo antes da pandemia, talvez porque eles já levam uma vida agitada demais com suas idas e vindas do trabalho e a constante movimentação de ideias, faculdade, pós-graduações, trânsito, reuniões, mercado de trabalho, redes sociais, agito social e toda uma miríade de fatores que deixam essa galera sempre ligada.

No entanto, o fator coronavírus fez a busca por métodos que acalmam, aliviam a ansiedade e trazem mais poder de foco aumentar: o lo-fi hip hop — ou apenas a música lo-fi, de maneira mais abrangente — já está chegando aos ouvidos de outras gerações.

A magia do experimental

A essa altura, você deve estar pensando: “Pronto, encontraram uma oportunidade de fazer dinheiro na pandemia!”. Na verdade, sim e não: a música lo-fi existe faz tempo e é apreciada pelo público que gosta de novidades, de conceitos experimentais e tem a cabeça aberta para aceitar a inclusão de novos instrumentos, harmonias e até objetos que nada têm a ver com música, mas acabam se tornando musicais nessas criações.

Conversando com um amigo músico das antigas sobre o lo-fi, chegamos à conclusão de que o estilo inspira e te deixa inspirar: por ter uma estética quadradinha e introspectiva, aceita várias nuances “viajandonas”, por vezes até bucólicas, distantes, que te levam a refletir e enxergar a vida de outra forma. É melhor ouvir com fones, mas tudo bem se você quiser preencher o ambiente com um som calmo, tranquilo e reflexivo. Muitos artistas colocam instrumentos étnicos, batidas psicodélicas, efeitos de sintetizador, instrumentos clássicos ou, simplesmente, instrumentos improvisados como cadeiras e latas. É a fuga total do mainstream.

De modo geral, os criadores desse tipo de conteúdo são independentes e não costumam fazer música para ficarem famosos. Eles querem divulgar seu trabalho para te deixar numa boa, antes de tudo. Tanto é que fica a pergunta: fala o nome de um artista famosão de lo-fi aí agora! Conhece algum? Pois é…

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Author: deivis

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