Quero você só pra mim”. “Faço isso por ciúme, por te amar muito”. “Sem mim você não tem mais ninguém no mundo”. “Eu confio em você, mas não confio nos outros”. “Fiz por amor, mas estou arrependido”. A lista de frases usadas por homens que praticam a violência contra a mulher é infindável. Todo tipo de argumento é ouvido nas delegacias, por familiares, vizinhos e pela própria vítima. Não bastasse o aumento dos casos de feminicídio durante a pandemia, é alarmante constatar que os finais de semana, que deveriam servir para descanso e lazer em família, carregam verdadeiro tormento. É justamente aos sábados e domingos que ocorrem 40% das agressões e mortes de mulheres.
A falta de delegacias especializadas abertas nos finais de semana para receber as denúncias é um agravante, um facilitador ao agressor. Esse alto índice também reflete atitudes do alcoolizado que descontou sua ira na mulher, o time que perdeu o jogo, a crise de ciúmes sem motivo aparente e uma série de justificativas sem fundamento, mas usadas como pretextos para que as mulheres sejam alvo do desequilíbrio emocional de seus parceiros.
Gravitam em torno dessa estatística vários entraves. De um lado existe a dificuldade de convencer grande parte das mulheres a registrar ocorrência e pedir socorro, do outro a falta do aparato do Estado para ampliar as delegacias especializadas e os canais para denúncias.
Entre os principais motivos que levam a vítima a não formalizar um boletim de ocorrência ou retirar as acusações estão a dependência emocional, a dependência econômica, a promessa de mudança e a vergonha de expor publicamente a situação afetiva.
O medo de cortar os laços com o companheiro ocorre em todas as classes sociais. Muitas vezes, a mulher continua na relação para garantir a sobrevivência por ter uma condição financeira baixa. Em contrapartida, quando é alta, a vítima acredita que, ao romper o vínculo, perderá o estilo de vida cercado de benesses.
Os filhos também representam uma das principais causas de dependência na relação, vínculo que facilita a manipulação por parte do agressor para obter o perdão e o silêncio da mulher.
Ainda que a sociedade se sensibilize e ajude a combater esse ciclo de violência, é obrigação do Estado sinalizar que esses atos são inadmissíveis e dar uma resposta efetiva para as vítimas. A prisão e as medidas protetivas precisam estar associadas a outras intervenções de políticas públicas. Acredito que além do acompanhamento para que as vítimas se reconstruam emocional e psicologicamente, precisamos oferecer alternativas para que as mulheres garantam a independência financeira e a mínima estabilidade econômica. Pesquisas indicam que 30% das mulheres vítimas de agressão permanecem no relacionamento porque dependem financeiramente dos companheiros. Criar oportunidades de trabalho e perspectivas de renda para as vítimas é uma das formas eficazes de prevenção e combate à violência contra a mulher. Precisamos juntar esforços entre os entes públicos, a esfera privada e a rede protetiva de direitos das mulheres para encontrar esses caminhos. É urgente.
Fonte: https://diariodopoder.com.br/opiniao/a-independencia-financeira-e-um-dos-caminhos
