Vivemos tempos turbulentos e um tanto confusos. Os jornais trazem muitas notícias ruins, como: assaltos, mortes, problemas políticos, entre outros. São problemas, que não devem ser ignorados, porém podem ser usados com o propósito de “criar” o sentimento da desesperança, impotência perante a vida, solidão, e com isso, resulta na passividade e na aceitação das “coisas como são”.
E para resistir a tudo isso, é necessário mais que ter esperança, é viver a esperança na ação, esperançar. Paulo Freire dizia que “esperançar é se levantar, é ir atrás, construir e não desistir! Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”. Então, com o objetivo de esperançar, nada melhor que o exemplo concreto. Assim, aproveito este espaço para contar algumas experiências de Brasília, do quadrado no meio de Goiás, lugar onde moro atualmente.
Brasília é o Distrito Federal (DF), não é nem estado, nem município, e seu território é dividido por regiões administrativas. Em cada uma destas regiões, conta com uma organização comunitária, chamada de rede social local, que apesar de ter este nome, não é virtual, mas é bem real, composta por pessoas que vivem, atuam e trabalham na região, e que representam alguns serviços públicos, como: saúde, assistência social, educação, segurança, conselho tutelar, ministério público, e pessoas da sociedade civil organizada, como conselhos de saúde, associações, OnGs, etc.
São chamadas de redes sociais locais do DF, pois trabalham em rede e atuam no território, lado a lado, em conjunto, resolvendo os problemas locais. Estas redes não são ligadas diretamente ao governo, apesar de terem várias pessoas de órgãos públicos. São redes autônomas, de participação voluntária, e não possuem coordenadores, com processo de gestão compartilhada.
As reuniões destas redes acontecem uma vez ao mês, e sempre em lugares diferentes, como estratégia para conhecer outros espaços, envolver novas pessoas e fortalecer as relações sociais no território. Estas pessoas, além de terem saído do papel do imobilismo social, reconhecem os problemas e articulam para a transformação da realidade de maneira cooperativa e coletiva. Vai além do simples papel de exigir mudanças do estado, são atores de transformação na luta pela garantia dos direitos.
As políticas públicas são organizadas de forma setorial e fragmentada. Cada área, como, por exemplo, saúde, educação, assistência social, esporte, tem políticas e estratégias próprias. E com a experiência das redes sociais locais do DF é possível a integração das políticas públicas e atender as pessoas na sua integralidade e complexidade. É lógico, que os problemas continuam, mas o sentimento de fortalecimento da ação no coletivo é presente.
Este diálogo, além de melhorar os fluxos entre os serviços, tem aumentado e promovido: a proteção de mulheres, crianças e adolescentes; a retomada de espaços da comunidade e planejamento junto com o governo para a criação de escolas, creches e unidades de saúde, dentro das necessidades de cada território.