O juiz federal Sérgio Moro mandou soltar nesta terça-feira (9) o empresário Marcos Pereira Reis, que foi detido em caráter temporário na sexta-feira (5), três dias após a deflagração da 33ª fase da Operação Lava Jato, batizada “Resta Um”. Ele havia se apresentado à Polícia Federal após voltar de uma viagem de trabalho à China.
De acordo com o despacho de Moro, nem a Polícia Federal, nem o Ministério Público Federal pediram a prorrogação da prisão, que poderia se estender por mais cinco dias ou mesmo ser transformada em preventiva, quando não há uma data para que a pessoa deixe a cadeia.
Moro ainda considerou que Reis apresentava um papel de subordinado no esquema investigado na 33ª fase da Lava Jato. Isso, para o juiz, seria um motivo para reconsiderar a necessidade de uma eventual manutenção dele na cadeia.
Marcos Pereira Reis é ligado ao consórcio Quip, que tinha a construtora Queiroz Galvão como acionista líder. A nova etapa da Lava Jato, deflagrada na terça-feira (2), tem como alvo a Queiroz Galvão, suspeita de fraudar licitações da Petrobras e de pagar propina para evitar investigações de uma CPI no Senado.
O ex-presidente da construtora Ildefonso Colares Filho e o ex-diretor Othon Zanoide de Moraes Filho foram presos preventivamente, ou seja, por tempo indeterminado, no Rio de Janeiro.
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, a Queiroz Galvão pagou propina a políticos e funcionários da Petrobras para fechar contratos com a estatal e também para obstruir investigações de uma CPI no Senado, em 2009. O repasse de propina envolvia contratos falsos e doações eleitorais – tanto caixa 2 como doações aparentemente legais.
Os dois presos preventivos já tinham sido detidos na 7ª fase da Lava Jato, em novembro de 2014, e tinham sido soltos dias depois por determinação da Justiça. A delegada da Polícia Federal (PF) Renata da Silva Rodrigues afirmou, em entrevista coletiva sobre a operação, que os ex-executivos tentaram atrapalhar as investigações. Por isso, foram pedidas as prisões preventivas.
Resta Um
Esta fase da Lava Jato foi batizada de “Resta Um” porque, conforme a PF, a Queiroz Galvão era a última empreiteira que faltava na investigação sobre formação de cartel na Petrobras. “De forma alguma isso quer dizer que as investigações não vão seguir”, afirmou delegado Igor Romário de Paula.
Segundo o Ministério Público, a Queiroz Galvão é suspeita de:
– formar cartel para fraudar contratos na Petrobras;
– pagar propina por meio do caixa 1 (doações eleitorais aparentemente legais);
– pagar propina por meio do caixa 2 – R$ 2,4 milhões teriam ido para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006;
– corromper funcionários da Petrobras e políticos;
– interferir na CPI da Petrobras no Senado, em 2009;
– manter funcionários no exterior, longe da ação da Justiça brasileira.
Campanha de Lula
O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou nesta terça que a empreiteira Queiroz Galvão é investigada por pagar caixa 2 para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2006. Segundo delação de Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC Engenharia, uma empresa que participou de consórcio com a Queiroz Galvão, o repasse para a campanha chegou a R$ 2,4 milhões.
A delegada Renata da Silva Rodrigues afirmou que a investigação sobre doações eleitorais da campanha de 2006 ainda estão em andamento.
Segundo ela, doações da Queiroz Galvão foram intermediadas pelo doleiro Alberto Youssef, considerado operador do esquema na Petrobras. A PF identificou três ou quatro parlamentares envolvidos, mas eles não são o alvo desta fase da operação. “Nosso objeto são os indivíduos que não têm foro [privilegiado]”, disse.