Jardim Botânico usa criatividade e parcerias como estratégia de gestão

Projetos envolvendo órgãos públicos e privados foram determinantes para as atividades desenvolvidas em 2016

No ambiente calmo, repleto de plantas que exigem cuidados específicos, o menino de 18 anos rega pela última vez as mudas reproduzidas in vitro no laboratório. Tímido, o garoto conta que o lugar aconchegante, no Jardim Botânico de Brasília, o ajudou a enxergar a vida com outros olhos. Ele e o colega de 16 anos cumprem, desde outubro, medida socioeducativa no espaço uma vez por semana, oito horas por dia.
Jardim Botânico de Brasília: estratégia de gestão envolve parcerias com diversos órgãos.
Jardim Botânico de Brasília: estratégia de gestão envolve parcerias com diversos órgãos. Foto: Dênio Simões/Agência Brasília – 2.3.2016

A iniciativa, fruto de parceria com a Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude, foi renovada neste ano e, desde 2015, atendeu mais de 20 adolescentes em conflito com a lei. A maioria são meninos, e a passagem pelo Jardim Botânico dura dois meses. “Geralmente, eles mexem com jardinagem, mas um deles, que tinha o pai pintor, veio ajudar na pintura da biblioteca. Outros atuam nos eventos que fazemos”, cita a superintendente técnico-científico, Vânia Araújo Soares.

Ela coleciona histórias de superação de quem já passou por ali. Há quem desista do projeto no meio do caminho, mas nunca por tédio ou falta de apreço pelo trabalho. “Alguns decidem mudar de cidade por conflito na família ou na comunidade onde vivem.” A superintendente conta que mudou a própria maneira de olhar o mundo depois da convivência. “A gente se apega. Se um se salvar para a gente já é um feito enorme.”

“A gente se apega. Se um se salvar, para a gente já é um feito enorme”Vânia Araújo Soares, superintendente técnico-científico do Jardim Botânico

O envolvimento dela e dos funcionários com a causa é a maior recompensa também para os meninos. Com sorriso largo e voz mansa, o garoto de 18 anos recorda, já com saudade, dos amigos que conquistou e que de alguma forma o inspiraram a ser melhor. “Aprendi sobre as plantas, os nutrientes que elas precisam, mas também aprendi a agir com mais prudência e estou diferente.” Ele foi um dos que nunca faltaram aos encontros.

Para o adolescente mais novo, a tranquilidade da estufa o fez querer o mesmo para a vida. Ele faz planos de voltar a estudar e deixar os hábitos que o fizeram cumprir a medida. “Eu percebi que temos que aproveitar o tempo e as oportunidades.”

Mas não foi apenas Vânia que encontrou um espaço entre as parcerias que a superintendência dela desenvolve. De acordo com o diretor executivo do local, Jeanitto Gentilini, estreitar relações com órgãos do governo, organizações não-governamentais e outras instituições tem sido estratégia primordial de gestão, para compensar a escassez de recursos.

“Temos adotado uma postura diferente em relação a demandas que chegam. Qualquer parceiro, independentemente do tamanho do projeto, é bem-vindo”, explica o diretor. As iniciativas são relacionadas a diversas áreas e mantiveram a agenda do órgão cheia em 2016.

“Eu percebi que temos que aproveitar o tempo e as oportunidades”Reeducando que cumpre medida socioeducativa

Além de atender jovens de unidades de atendimento em meio aberto, por exemplo, a equipe do Jardim Botânico ministrou oficinas na Unidade de Internação de São Sebastião, onde os meninos cumprem a medida sem poder sair.

Levantamento florístico de área degradada no Sol Nascente

Os projetos da instituição ultrapassam o lado social. De acordo com Gentilini, o Jardim Botânico também está em fase de conclusão do relatório com o levantamento florístico de toda a área degradada desde o início da ocupação no Sol Nascente, em Ceilândia.

Os dados serão repassados para o Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O trabalho de campo, que já terminou, durou cerca de um mês. “Com isso, ajudamos o governo a economizar com a contratação de uma empresa para o serviço”, observa.

Em parceria com o Ibram, também foi criado o programa Jardim Botânico nos Parques, para plantio de mais de 50 espécies produzidas nos viveiros do órgão em parques do DF. Já foram plantadas cem mudas no Bosque dos Eucaliptos e no Parque Vivencial Denner, no Guará e outras cem no Parque Veredinha, em Brazlândia.

O diretor executivo do Jardim Botânico de Brasília, Jeanitto Gentilini.
O diretor executivo do Jardim Botânico de Brasília, Jeanitto Gentilini. Foto: Andre Borges/Agência Brasília – 8.12.2016

A mesma quantidade foi destinada ao Parque Urbano do Paranoá, ao Bosque do Sudoeste e ao Parque Ecológico de Águas Claras. Os plantios ocorrem na medida em que um levantamento, feito pelo instituto, detecta áreas que podem ser atendidas.

Cenário para série de televisão

O verde do Jardim Botânico também foi procurado para cenário de série televisiva. O ator Marcos Palmeira gravou ali cenas do seriado Manual de Sobrevivência para o Século 21. A obra, com dez episódios, mostra atitudes sustentáveis para lidar com a realidade atual.

O Jardim Botânico também tem aberto as portas para palestras e capacitações de outros órgãos. “Se o governo fosse investir no aluguel de um espaço, provavelmente teria uma despesa de pelo menos R$ 15 mil”, diz Jeanitto Gentilini.

Investimento em infraestrutura

Segundo o diretor executivo, as parcerias e a quantidade de projetos desenvolvidos pelo Jardim Botânico tem possibilitado angariar recursos para melhorias na estrutura. “Aumentamos nossa visibilidade e temos conseguido apoios que antes eram distantes da realidade.”

“Aumentamos nossa visibilidade e temos conseguido apoios que antes eram distantes da realidade”Jeanitto Gentilini, diretor executivo do Jardim Botânico

Neste ano, foram iniciadas as obras de três estufas que abrigarão coleções de pesquisas científicas e um parque interativo, com oca, castelinho e casa na árvore. Para o ano que vem, espera-se investir na compra de equipamentos para a biblioteca digital, reforma do anfiteatro e adaptação da portaria principal. Tudo com verba de emenda parlamentar.

Com o apoio da organização não governamental WWF Brasil, o Centro Internacional de Referência e Transdisciplinaridade (Cirat), antes instalado no Centro de Excelência do Cerrado (Cerratenses), ganhou nova sede. A ONG doou o espaço onde funcionava, no Lago Norte, para o setor se estruturar melhor.

O Cirat surgiu em 2009 para desenvolver pesquisas sobre recursos hídricos, mas a criação foi oficializada apenas em maio do ano passado, por meio de publicação no Diário Oficial do DF. Ele funciona com doações de organismos nacionais e do exterior, e com premiações em dinheiro para projetos.

O centro reúne pesquisadores de nove órgãos do governo de Brasília: Secretarias do Meio Ambiente, de Saúde, de Cultura, de Educação e da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, além de Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Agência Regularoda de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), Ibram e Jardim Botânico.

EDIÇÃO: VANNILDO MENDES

Fonte: AGÊNCIA BRASÍLIA

Poliana Costa
Author: Poliana Costa

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