Por Elsânia Estácio
Fundada em junho de 2014, com o desafio e objetivo de desenvolver a cultura e abrigar artistas, atrizes, cantores, poetas e poetisas, nasceu a Casa Frida Kahlo, criada pela baiana Hellen Cristhyan Correia, de 26 anos. O desejo de criar a Casa nasceu quando ela era coordenadora do Circuito Universitário de Cultura e Arte da Bahia (Cuca). “Através do Cuca eu fui pensando outros modelos de atuação, como cultura e arte, com princípios de feminismo revolucionário e tudo mais, só que numa perspectiva menos acadêmica e mais voltada para a periferia, então eu decidi que o meu projeto de vida seria criar esse espaço na periferia”, diz.
A princípio, a ideia era abrir o espaço em Salvador, mas Hellen mudou para São Sebastião em fevereiro de 2014 e não hesitou em por o projeto em prática. “Quando eu cheguei em Brasília fui morar em São Sebastião, eu não conhecia o local, mas fui abraçada com carinho pelas mulheres da cidade que tem vários dons artísticos e faltava um espaço para produzir essa arte. São Sebastião respira arte, cultura, movimentos de rua, atores, poesia. Aqui era o lugar certo de fazer a Casa Frida”, lembra.
A fundadora, Hellen Cristyan, explica que o nome da Casa foi inspirado em Frida Kahlo, uma artista revolucionária mexicana que teve uma vida muito difícil, mas que mesmo assim não desistiu de produzir arte e cultura. “A gente começou a pensar sobre o que seria essa casa de cultura, como éramos em maioria mulheres e sabíamos das dificuldades da cidade de São Sebastião, da violência doméstica e sexual, decidimos criar esse ponto de acolhimento e propagação da cultura das mulheres, juntando todos esses princípios escolhemos o nome Frida”, diz.
Elas encontraram no nome Frida uma sigla: feminismo, revolução, igualdade, diversidade e amor, princípios norteadores que dão um rumo para a juventude que frequentam o local. Apesar das dificuldades, Hellen se diz muito satisfeita em ter alcançado o seu objetivo com o projeto: “Foi a forma que a gente achou de dizer pros jovens não desistirem, que a vida é difícil, mas que a gente pode encontrar um refúgio na arte e cultura”, justifica.
Paredes que expressão cultura
Em todos os cômodos da Casa Frida pode-se ler e ver expressões dos mais variados tipos nas paredes pintadas e grafadas com frases, poesias e desenhos feitos por quem frequenta o espaço. Hellen Cristhyan diz que a prática de escrever nas paredes representa liberdade de expressão e é uma forma de ajudar na comunicação interna. “Muitas pessoas que frequentam aqui, quando chegaram, eram tímidas e o jeito de fazer as pessoas falarem aquilo que elas pensam era escrevendo nas paredes. As paredes falam, elas têm uma mensagem, elas têm grito pedindo socorro e a gente busca saber quem é pra poder ajudar”, diz.
Com a ajuda de parceiros, a casa já ofereceu oficinas de mosaico, grafite, oficina de produção de eventos, além de debates dos mais variados temas, como LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), feminismo, meio ambiente. Atualmente, a casa possui uma programação semestral com atividades de aula de dança contemporânea popular, Yoga e outras práticas de cura para mulheres, oficinas de circo, teatro e palhaçaria para montagem de um espetáculo chamado “Desempregadas”, que é patrocinada pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
Ajuda ao próximo
A Casa Frida também oferece para público feminino o curso de Gestão Cultural para Mulheres, a Roda de Apoio ás Mulheres Grávidas realizado todo primeiro domingo do mês, Roda de Cuidado e Auto Cuidado entre Mulheres Ativistas e a palestra Direito da Família como forma de Empoderamento Feminino. Essa programação é fixa e fora isso tem as atividades pontuais que são realizadas ao longo da semana na casa cultural. “O primeiro semestre de 2017 nos estamos com uma programação super cheia e rica, quem tiver interesse em conhecer nosso trabalho ou fazer alguma dessas atividades citadas na matéria, acesse a nossa página no Facebook ou nosso site para mais informações,” explica.
Isso porque a Casa tem um gasto mensal de aproximadamente R$ 1.000,00 com aluguel, fora produtos de limpeza, água e luz. Atualmente, o local se mantém com muita dificuldade. Uma das formas de arrecadar dinheiro para as despesas é com a campanha 50 por Frida, que tem o objetivo de juntar 50 pessoas que colabore com R$10,00 mensalmente, com a finalidade depagar a metade do aluguel da casa. O projeto não conta com nenhum apoio do governo, mas já se pensa em buscar ajuda financeira junto ao GDF ou o Ministério da Cultura.
Outra forma de arrecadação é com o bazar de roupas e com a venda de artesanato, colares e pulseiras que são produzidos nas oficinas, vendas de doce por encomenda, trabalhos artisticos, cadernos artesanais, pinturas e dessa forma a fundadora Hellen vai mantendo a casa. Mas tudo com muitos desafios.
Para a realização de oficinas e eventos a Casa conta com a ajuda da população e de parceiros, como o Coletivo ArtSam, um núcleo de formação popular de Samambaia, além do grupo Radicais Livres e o Super Nova, coletivos de cultura da cidade, que também estão sempre presentes nos eventos e dispostos a ajudar culturalmente.
Reconhecimento
Hellen Cristhyan, fala com orgulho dos dois prêmios que a Casa Frida ganhou. “A casa ganhou a primeira edição do prêmio Pró-Equidade de Gênero na Cultura no valor de 15 mil reais e com ele nos vamos criar o selo Casa Frida de publicação de livros, para publicar livros de mulheres de São Sebastião na cultura”.
A Casa Frida também ganhou seu primeiro edital do ano de 2017, o – LECRIA – Laboratório de Empreendimentos Criativos. “Nós escrevemos o projeto de manutenção da Casa Frida para pagar o aluguel da casa durante um ano e fomos contempladas com esse edital ganhando 10 mil reais. Estamos aguardando o dinheiro para pagar algumas despesas para conseguirmos gastar nossa energia com que a gente tem de melhor para oferecer, que é a nossa arte e cultura. É gratificante ter o nosso trabalho reconhecido, por isso que a Casa Frida está aberta 24 horas por dia, para o acolhimento de mulheres que esteja ou já passou por violência doméstica ou alguma situação que a coloque em risco.
Ajuda ao próximo
Além da parte cultural, a casa popular também desenvolve um trabalho social importante para os jovens. Muitos procuram a instituição para serem orientados quando sofrem violência psicológica, enfrentam problemas com a família quando se assumem homossexuais, entre outros problemas. Na Frida, essas pessoas recebem o apoio necessário, e quando preciso, os casos são encaminhados para o Conselho Tutelar ou até mesmo para a polícia.
Serviço:
Casa Frida
Endereço: Rua 30, Casa 121, Vila Nova, São Sebastião (DF)
Contato: 98360-1676
E-mail:casafridadf@gmail.com
Página oficial no Facebook: casafridadf
Site: https://www.casafridadf.com/
Atividades: Cursos de extensão em parceria com IFB e UnB, oficinas, saraus e projetos, como Roda de São Samba e Cine Clube Feminista.