Brasília: Capital do poder e do misticismo

A cidade que respira política carrega também espiritualidade, simbolismo e diversidade religiosa.

Por Elsânia Estácio

Nascida do ideal de Juscelino Kubistchek e a partir de um sonho profético do padre franciscano salesiano, Dom Bosco (1815-1888), que no século dezenove, teve uma visão sobre o lugar, cuja localização seria exatamente onde hoje está a Capital Federal – Brasília, além de palco político do país, também pode ser conhecida por seu ecumenismo, ou seja, sua repleta e vasta gama de manifestações religiosas.

Em uma das suas passagens, Dom Bosco escreveu sobre um lugar abençoado (que acreditava ser Brasília): “Entre os graus 15 e 20, existia um seio de terra bastante largo e longo, que partia de um ponto onde se formava um lago. E então uma voz me disse, repetidamente: Quando vierem escavar os minerais ocultos no meio destas montanhas, surgirá aqui a Terra da Promissão, fluente de leite e de mel. Será uma riqueza inconcebível”.  Por isso, muitos dizem que Dom Bosco foi quem profetizou a criação de Brasília, décadas antes de ela se tornar realidade.

Desenhada no coração do Brasil, a Capital Federal abriga diferentes religiões em templos e igrejas espalhadas pela cidade, alguns apreciados como obras de arte. Além da Catedral Metropolitana  e da Igrejinha de Fátima, cartões-postais da cidade, também merecem destaque o Centro Islâmico do Brasil, a Igreja Messiânica Mundial, o Templo Budista Seicho-No-Iê, o Santuário Dom Bosco, o Oratório do Soldado, a sede da Sara Nossa Terra, a Catedral da Igreja Universal do Reino de Deus e o Templo da Legião da Boa Vontade, um dos pontos turísticos mais visitados de Brasília.

 

Diversidade religiosa e turismo

Tanto o centro da Capital quanto seu entorno congregam adeptos dos mais variados tipos de religião. Indo do catolicismo, protestantismo, espiritismo, crenças afro-brasileiras, messiânicos, presbiterianos, islâmicos à grupos e comunidades que, de forma autônoma e ao longo dos anos, adaptaram e recriam rituais, doutrinas e práticas a partir das suas experiências individuais, constituindo outras formas de manifestação religiosa, mística ou esotérica.

Segundo informações do Governo do Distrito Federal, a região abriga mais de 800 templos das mais diversas religiões e doutrinas, o que favorece o turismo religioso na cidade. Alguns locais se tornaram referência, não somente para quem busca desfrutar da paz espiritual, mas também conhecer espaços sagrados considerados patrimônios históricos do Distrito Federal, como o Templo da Boa Vontade, a Catedral Metropolitana de Brasília e a Ermida Dom Bosco – sendo os dois últimos, projetados por Oscar Niemeyer.

Para os mais místicos, o turismo religioso é ainda maior e possuem referências conhecidas internacionalmente como o Vale do Amanhecer, que além de ser considerado patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), é um dos endereços mais procurados no DF quando o assunto é religião. Localizado em Planaltina, a região recebe cerca de 3 mil pessoas semanalmente. O espaço abriga a Doutrina do Amanhecer, fundada em 1959 por Neiva Chaves Zelaya, conhecida como Tia Neiva. Por meio de sua mediunidade, ela teria recebido orientações do “Pai Seta Branca”, representante máximo da crença e uma das encarnações do espírito de São Francisco de Assis. São mais de 600 templos no Brasil e no exterior, que pregam a paz, a caridade, a fé e o amor.

A Cidade Eclética Yokaonan, também em Brasília, é das mais conhecidas. Fundada na cidade de Santo Antônio do Descoberto no Estado do Goiás, a religião é conhecida pela mistura entre kardecistas e umbanda; e a seita Fé Bahá’í, que tem como objetivo reunir as religiões para unificar os princípios éticos e morais que cada uma oferece, a fim de deixar ao mundo de amanhã um código Cristão único, incondicionalmente integrado no “amai-vos uns aos outros”. Criada na antiga Pérsia em 1844, possui suas próprias leis e escrituras: as Sagradas Escrituras Bahá”ís.

E não para por ai, para quem vem de outros países, como o Japão, ainda existe o Templo Budista Terra Pura, localizado na 315/316 Sul. Inaugurado em 1964, o espaço permite que famílias nipo-brasileiras revivam a velha tradição japonesa. Sendo que, na Asa Norte, um outro ponto muito visitado é o Centro Islâmico do Brasil, uma mesquita islâmica, que além de ser a única de Brasília, é considerada a maior da América Latina, ocupando uma área de 2,8 mil m². Com capacidade para mil pessoas, o prédio foi construído em autêntica arquitetura árabe e possui um minarete, torre de onde, no islamismo, o sacerdote chama os fiéis para as cinco orações diárias.

 

Influências religiosas

Nos dias atuais, é possível perceber diversas influências religiosas na vida das pessoas, algumas inclusive, que mexem totalmente com o seu modo de agir, de pensar e até em seu estilo de vida. Segundo o pastor, João Camilo Júnior, da igreja Ministério Internacional Vida Abundante, localizada em Ceilândia, a religião tem um papel fundamental na vida do indivíduo. Ela significa, pela própria etimologia da palavra, religação. Conexão com algo maior que vai além da nossa compreensão. “No caso dos cristãos, a religião veio para nos religar com Deus, por meio de Jesus Cristo. Independente da crença ou fé, Durkheim, grande cientista social, destacou a importância da religião para o indivíduo. Para ele, a verdadeira função da religião era nos fazer pensar e nos ensinar a viver mais e melhor. Gosto de pensar na religião como algo que transcende bandeiras e guerras. Prefiro o termo fé. A fé precisa nos tornar pessoas melhores, mais éticas e, acima de tudo, mais respeitosas com o outro”, explica o pastor.

Já o Padre Paulo Alves Marciano, da Paróquia Santo Inácio de Loyola, em Samambaia destaca que, um dos maiores desafios da religião é, justamente, fazer a junção entre a fé e a vida.  “O termo conversão é uma palavra chave dentro do cristianismo, acreditar que é possível mudar, que é possível melhorar, que é possível ser uma pessoa melhor. Está como uma das coisas centrantes do cristianismo por que essa conversão se dá justamente quando a pessoa vive aquilo que o próprio Jesus ensinou, que seria amar a Deus e ao próximo”, afirma Padre Paulo.

Estudos científicos indicam que quanto maior o nível de envolvimento religioso de uma pessoa, maiores são os indicadores de bem estar psicológico. Segundo o pai de santo, Krishina Miranda de Campos, mais conhecido como Tata Nkisi, todas as religiões que existem no mundo, são boas e as pessoas devem se dedicar de acordo com a fé de cada um e ressalta: “É importante no caminho de hoje existir a fé, sem essa fé, não existe o que fazer dentro de uma religiosidade. Na umbanda eu iniciei em 1956, dentro da casa de meu pai que já era espírita, no candomblé iniciei em 1980. A principal influência que tive nessas duas religiões foi a dedicação a espiritualidade, com princípio em ajudar as pessoas pelo lado da umbanda e a desenvolver minha parte espiritual no candomblé onde o caminho e ajudar o próximo”.

Para a presidente do Conselho Diretor da SEAE – Sociedade Espírita de Assistência e Estudo, Nuérpia Évene Santos Cesar Leal, a doutrina espírita instrui e consola realçando a caridade e o entendimento de que todos os seres humanos são irmãos. Segundo ela, o espiritismo estuda em seus princípios fundamentais: a existência de Deus, Jesus como o amado mestre, a imortalidade da alma, a reencarnação, a comunicabilidade dos espíritos e a pluralidade dos mundos habitados. “Para mim, em especial, ela é um sol que ilumina minha alma, afinal, na minha imperfeição, ela me oferece oportunidades muitas para me tornar uma pessoa melhor a cada dia mediante o exercício diário da caridade, do perdão da compreensão e do autoconhecimento”, diz Nuérpia Évene Santos Cesar Leal.

 

 

Poliana Costa
Author: Poliana Costa

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